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Pequenas escolas, uma grande missão: pensando desafios e soluções

 Sendo guiadas por desejos missionários, as escolas pequenas, como uma empresa, passam por inúmeras dificuldades, seja no setor financeiro, educacional ou de marketing. Pensando nisso, em conjunto com especialistas, traçaremos soluções para essas problemáticas.

Com o passar do tempo, a quantidade de escolas cristãs aumentou . Atualmente, sem contar as católicas, existem mais de 1.000 instituições cristãs no Brasil. Algumas continuam ligadas diretamente às denominações, outras são mantidas por igrejas e outra parte é mantida por empresários evangélicos, sendo a maioria delas de pequeno ou médio porte.

Essas pequenas escolas, assim como empresas, têm de driblar uma série de desafios no que concernem a área financeira, de marketing, comercial, entre outras. Nesse sentido, buscamos ensaiar alternativas para esses obstáculos.

 MISSÃO

Os colégios cristãos – de todos os tamanhos – sempre cumpriram um papel evangelístico e social: a missão de educar crianças e adolescentes com princípios bíblicos, com valores e ética.

Ademais, nas escolas cristãs não estudam apenas filhos de famílias evangélicas, mas pessoas de diversas religiões e muitos até sem nenhum tipo de crença. O que faz estes pais optarem por escolas cristãs é a qualidade e o ensino diferenciado em relação a princípios e valores – o que está intimamente interligado à missão destas instituições.

Segundo Geomário Moreira Carneiro, especialista em gestão escolar, é esse sentido missionário que orienta a abertura de uma escola. “O que deve motivar abertura de uma escola é o propósito de ser relevante na educação das crianças de uma determinada região”, confirmou.

Além disso, todas as decisões pedagógicas devem ser norteadas para cumprir essa missão com excelência. “Nas decisões pedagógicas, o que deve prevalecer é qualidade do ensino. Também estabelecer uma metodologia de ensino que permita a formação de valores e princípios”, aconselhou.

 

“O que deve motivar abertura de uma escola é o propósito de ser relevante na educação das crianças de uma determinada região”

Geomário Moreira Carneiro, especialista em gestão escolar

 

ASSOCIAÇÕES

Nesse contexto missionário, com o fito de apoiar diretamente as escolas para a formação curricular baseada em princípios bíblicos e para desmistificar preconceitos sobre a educação escolar cristã, surgiram as associações.

“Existem as associações denominacionais, que congregam escolas de uma mesma denominação, que é o caso da ANEP (Presbiteriana), ANEB (Batista), Sinodal e ANEL (Luteranas), COGEIME (Metodista) e a associação que reúne as escolas adventistas.

Essas associações formam a ABIEE – Associação Brasileira de Instituições Educacionais Evangélicas. Além das associações denominacionais, temos a ACSI – Associação Internacional e Escolas Cristãs e a AECEP – Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios”, citou Rogério.

Essa ajuda é de grande serventia à medida que a maior parte das escolas cristãs são de pequeno ou médio porte. “Apesar de serem escolas pequenas, estas lidam com desafios gigantes, não importando se a mantenedora é associação denominacional, igreja ou mesmo um empresário e educador cristão. São pequenas escolas, mas com uma grande missão. São pequenas escolas, mas com grandes desafios”, ressaltou Rogério Moreira Scheidegger, Consultor da Prospecta Educacional.

DESAFIOS

Ainda segundo o consultor Prospecta, é difícil listar os desafios de uma escola cristã, sendo mais fácil listar as áreas onde estes se encontram.

“Os maiores desafios estão na área financeira, tributária, comercial, de marketing, concorrência predatória e na própria área educacional. As escolas cristãs sendo, em sua maioria, escola de menor porte, são dirigidas por uma ou duas pessoas que precisam entender e gerenciar o administrativo e o educacional”, apontou.

 

“Os maiores desafios estão na área financeira, tributária, comercial, de marketing, concorrência predatória e na própria área educacional”

Rogério Moreira Scheidegger, Consultor da Prospecta Estratégia Educacional

 

FINANÇAS

Segundo Geomário, especialista em gestão escolar, toda escola precisa tomar cuidados para se manter financeiramente equilibrada.

“Uma escola confessional deve, sobretudo, tomar cuidado para não fazer dela um cabide de emprego. Outras medidas incluem não permitir que a inadimplência seja crescente, tomar cuidado para não gerar endividamento e sempre procurar fazer uma reserva técnica no mínimo o equivalente a uma folha de pagamento mensal”, sugeriu.

Além disso, Geomário considera imprescindível fazer os investimentos certos para garantir crescimento com sustentabilidade. “Uma escola pequena não pode pensar em fazer grandes investimentos. Mas pode estabelecer um planejamento de investimento na sua estrutura e na sua equipe profissional para manter sua equipe sempre motivada”, evidenciou.

Eduardo Melo, gerente de polos EAD da Unigranrio e especialista em gestão, defende que uma pequena instituição é um negócio como qualquer outro e, por esse motivo, além de oferecer um serviço de qualidade, precisa ser viável financeiramente.

“Falando de forma simplificada, a escola precisa receber mais do que gasta para prestar o serviço educacional. Nesse sentido, é imprescindível que o dono da instituição domine a área financeira tanto quanto a área pedagógica. Se ele não dominar, precisa se juntar a quem domine, seja uma consultoria ou gestor profissional”, elucidou Eduardo.

O principal desafio, segundo o especialista em gestão, é que, em uma escola, os custos fixos precisam ser rateados por um número pequeno de alunos.

“Estamos falando, por exemplo, da folha de pagamento de professores. Em uma turma reduzida, situação muito comum em escolas menores, o custo da hora desse professor precisará ser rateado por um número pequeno de alunos. Isso torna a operação mais cara, tendo em vista que o lucro por aluno será menor naquela turma. Uma consequência dessa situação é a redução da competitividade da instituição, que acaba tendo de encarecer o valor da mensalidade”, explicou.

Ademais, esse desequilíbrio financeiro acaba gerando outras problemáticas. “O colégio acaba tendo reduzida a sua capacidade de pagar bons salários e investir, por exemplo, em marketing e novas tecnologias”, alertou.

Segundo o especialista, cinco erros comuns estimulam a ocorrência dessa espiral negativa. A citar: ausência de planejamento financeiro, falta de monitoramento financeiro, gestão ineficiente de inadimplência, implementação de promoções sem critério e financiamentos em cima da hora.

Eduardo defende que um pequeno negócio tenha um orçamento anual e um controle mensal. Esse controle deve ser feito prevendo receitas e custos e, a partir disso, é possível projetar a receita e a margem de lucro desejada, além de calcular valor disponível para investimentos, saneamento de custos e melhorias.

“Não ter um orçamento a ser perseguido é o mesmo que viajar para o exterior sem saber quanto se pode gastar no cartão de crédito. No final, a conta vai chegar e o resultado será a deterioração do lucro (ou aumento do prejuízo), por meio da ampliação dos gastos com juros e amortizações”, ponderou.

Da mesma forma que, para Eduardo, não adianta ter um planejamento financeiro se a instituição não tem sistema de monitoramento e controle do que se passa no caixa.

“Como determinar se o orçamento está sendo cumprido se a medição não ocorre? Existem sistemas financeiros modernos capazes de criar relatórios online e de forma sincronizada ao extrato da conta bancária que podem auxiliar no controle”, indicou.

Segundo o gestor, outro ponto que precisa ser gerido é a inadimplência. Esta é uma realidade que precisa ser prevista e gerenciada pelo gestor.

“Quando isso não ocorre, a situação tende a virar uma bola de neve. Soluções podem envolver a contratação de empresas de cobrança, programa de incentivo à quitação de débitos e o estabelecimento de multas contratuais por atraso de pagamento”, apontou.

Além do referido, Eduardo aponta que promoção é algo que, se não for bem pensado, pode colocar a saúde financeira da escola em risco.

“Quantos alunos pagando um ticket médio de R$x são necessários para o colégio atingir o ponto de equilíbrio (cenário em que receitas se igualam às despesas)? Para o próximo ciclo de matrículas, qual promoção poderá ser aplicada sem colocar o caixa da escola em risco? Se o colégio reduzir a mensalidade (promoção), reduzirá a receita mensal por aluno mas tenderá a ampliar a receita global, já que mais alunos estarão propensos a efetivar matrícula. Criar promoções sem entender as implicações por trás de cada decisão é o mesmo que dirigir um carro de olhos vendados!”, exclamou.

O último ponto abordado como problemático pelo especialista em gestão perpassa os financiamentos em cima da hora, seja para a realização de obras, investimento em inovação ou para equilíbrio de capital de giro. O problema é a falta de planejamento ao pegar esses empréstimos.

“Não é incomum termos colégios financiando seus investimentos por meio do cheque especial de suas contas, um dos maiores juros da atualidade. Isso ocorre pois, normalmente, não há planejamento para a contratação de financiamentos. Sem planejamento, não há tempo para buscar e negociar as melhores condições. Normalmente, a origem dos resultados financeiros negativos dos colégios se deve ao mau planejamento e gestão dos financiamentos, gerando endividamentos bancários crescentes”, diagnosticou Eduardo.

 

“É imprescindível que o dono da instituição domine a área financeira tanto quanto a área pedagógica”

Eduardo Melo, Especialista em Gestão.

 

MARKETING

Outro ponto que costuma ser negligenciado nas pequenas escolas é o marketing. Segundo o consultor e especialista em marketing da Prospecta Educacional Leonardo Oliveira, muitas escolas de pequeno e médio porte podem achar que marketing é para grandes redes educacionais.

“É importante destacar que ser uma instituição de ensino com orientação em marketing é pensar em estratégias para construir a proposta de valor perante o público interno (alunos, famílias e colaboradores) e na comunidade onde estamos inseridos. Isso independente se é uma escola de 100 ou 5 mil alunos”, ponderou Leonardo.

Além disso, usar as ferramentas corretas de marketing é ímpar para escolas que não são as maiores em estrutura física.

“Chega nem a ser uma opção. É vital. É vital porque apresenta os seus diferenciais e te posiciona no mercado de uma forma mais competitiva. Quando falamos do universo digital, a percepção de valor entre as marcas pode variar muito. Assim, de acordo com sua apresentação na internet, uma escola com piscina olímpica e outra que faz banho de mangueira com seus alunos podem ter valor equivalente na avaliação de uma família. A posição da sua instituição na busca do Google, o seu conteúdo nas redes sociais e a qualidade do seu site institucional, por exemplo, pode fazer uma diferença enorme no conjunto da experiência digital dessa família com a sua marca”, argumentou o especialista em marketing.

Leonardo apontou, também, a necessidade de investir em marketing o ano inteiro, e não só na campanha de matrículas.

“O marketing educacional para pequenas e médias instituições de ensino não pode estar restrito ao período de matrículas, mas num projeto anual envolvendo os líderes da escola. Essa cultura de pensar eventos, presença na internet, pesquisas, treinamento de equipe, comunicação interna e campanha de matrículas como um todo pode fazer toda a diferença para sua escola perante grandes concorrentes”, endossou o publicitário.

Além disso, é importante mencionar também que a definição de marketing ultrapassa planejamento de propagandas. “Também é marketing pensar na sua política de preços, na qualidade dos seus serviços educacionais e no aprimoramento da sua estrutura física. Para isso, pesquisas de satisfação e análise da concorrência são imprescindíveis”, concluiu Leonardo.

 

EDUCAÇÃO E INOVAÇÃO

Muitas pessoas pensam em inovação como desenvolvimento de um novo produto, serviço ou tecnologia, mas este movimento envolve, também, novos modelos de negócios, novas formas de atendimento ao cliente, novos processos e novos meios de cooperação e competição no ambiente empresarial.

“Num mundo cada vez mais competitivo, investir em inovação é uma maneira de dar sobrevivência ao negócio. Muitos gestores não conseguem enxergar a importância da inovação para continuidade de sua empresa”, constatou Rogério.

Para ele, promover inovação é sensibilizar, estimular, promover e ensinar sobre a cultura da inovação e do empreendedorismo. “As escolas têm papel fundamental na promoção da inovação, pois são agentes desta!”, exclamou.

Rogério defende que os alunos precisam viver em um ambiente de inovação para estarem mais preparados para ingressar na vida profissional, quando, certamente, irão enfrentar um ambiente extremamente competitivo.

“Ensinar os alunos num ambiente de inovação é trabalhar com robótica, espaço maker, ensino bilíngue, metodologias ativas e utilizar plataformas que são elaboradas para o crescimento do processo de inovação dentro das escolas. Entretanto, deve-se tomar os cuidados necessários para evitar modismos e utilização de métodos e práticas que não irão contribuir efetivamente para o crescimento do aluno”, declarou.

Por esse motivo, dentro do possível, as escolas precisam trabalhar a agenda da inovação, para desenvolver nos alunos uma melhor preparação para o futuro mercado de trabalho. “Neste ponto, as dificuldades das escolas cristãs de menor porte devem ser vencidas com parcerias e projetos”, finalizou.

Pensando em soluções para os principais dilemas de pequenas escolas

por Rogério Moreira Scheidegger, consultor da Prospecta Educacional.

1. CAPTAÇÃO DE ALUNOS

É importante pensar em captação durante o ano todo. Se o planejamento só é feito quando está se aproximando o mês de julho e agosto, acaba sendo mais desgastante para os envolvidos – devido à quantidade de providências a serem tomadas.
Comece o planejamento em março e busque investir em marketing – principalmente o digital. Faz toda a diferença!

2. PENSAR FORA DA CAIXA

Se considerarmos o período de mudanças que estamos vivendo devido ao avanço tecnológico, precisamos pensar diferente todos os dias.
O que podemos agregar a gestão da escola ou ao processo educacional que podemos fazer diferente, trazer mais qualidade e resultados? É investir em ensino bilíngue? É criar um espaço maker?
Esse “pensar fora da caixa” deve ser uma constante nos dias de hoje.

3. TER UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA BEM DEFINIDA

Algumas escolas adotam linhas pedagógicas específicas, outras são ecléticas, outras seguem os seus sistemas de ensino e existem aquelas escolas que têm uma prática pedagógica, mas sem uma proposta definida.

As escolas de missão devem ter uma proposta pedagógica definida, bem pensada, estudada, para que, por meio de sua linha, possa capacitar os seus professores, promover um acompanhamento e gerar resultados.

Neste contexto de missão, é bom que as escolas cristãs conheçam as propostas de trabalho da ACSI (Associação Internacional e Escolas Cristãs) e da AECEP (Associação de Escolas Cristãs de Educação por Princípios), pois poderão alinhar as suas linhas pedagógicas e metodologias que vão ao encontro da sua missão.

4. GESTÃO ESPECIALIZADA

As escolas cristãs, principalmente as de pequeno e médio porte, precisam investir numa gestão profissionalizada com planejamento, metas e busca por resultados.
Com esse “olhar de fora”, o especialista poderá ver o que está travando o crescimento da escola, entregar soluções personalizadas e garantir uma expansão sustentável da instituição.