Um relato cheio de afeto sobre como as tecnologias permeavam o imaginário de muitas crianças na década de noventa.
Por Diego Nascimento*
No início da década de 1990, eu dava meus primeiros passos na educação básica. Venho de uma família simples e quaisquer dispositivos eletrônicos eram realidade apenas nos comerciais de TV. Lembro com clareza que cada dia na escola oferecia uma surpresa diferente e isso incluiu a imersão tecnológica. Foi nesse ambiente que conheci algo que revolucionaria minha forma de pensar.
Aos seis anos de idade, o pequeno Diego reunia as características de uma criança saudável correndo de um lado para o outro nos corredores da então Escola Estadual (hoje Municipal) Álvaro Botelho em Lavras, sul de Minas Gerais. Um certo dia, creio que no intervalo da terceira aula, testemunhei uma cena incrível: a secretária estava manuseando um equipamento grande e de metal.
O cheiro de álcool havia se espalhado por todos os cantos e, de forma mágica, folhas e mais folhas saiam de um cilindro – onde uma espécie de desenho matriz era copiado em questão de segundos. No entanto, minha curiosidade havia sido vencida pela timidez e, por isso, fui para casa refletindo sobre o que tinha visto.
Demorou alguns meses para que o mistério fosse revelado. Por alguma razão até hoje desconhecida, a minha classe foi apresentada ao bom e velho mimeógrafo. Todos os meus colegas estavam com os olhos fitos na novidade.
As inúmeras teorias sobre o funcionamento daquele objeto eram gradualmente refutadas e canalizadas para uma explicação tangível e ao alcance de todos: uma página era escrita a próprio punho ou datilografada sobre o estêncil (uma folha especial coberta com carbono). Assim, o desenho ou texto surgia no lado oposto da página que, em seguida, era colocada no cilindro. Depois de girar a manivela, cópias e mais cópias idênticas saíam para serem utilizadas como bilhetes, exercícios e até provas.
HISTÓRICO
O que pouca gente sabe é que o mimeógrafo se mostra mais do que centenário. Os registros apontam que o inventor norte-americano Thomas Edison patenteou o primeiro protótipo ainda em 1887.
Ao que tudo indica, o “pai da lâmpada” é também o responsável por uma das inovações do ambiente escolar. Discreto, o mimeógrafo certamente participou dos bastidores do aprendizado de alunos mundo afora, incluindo futuros cientistas que mais tarde lançariam as copiadoras digitais, impressoras e a própria internet.
Por fim, a vida adulta traz as responsabilidades, mas também muita saudade de um tempo que não volta mais. Sem sombra de dúvidas, as descobertas abrem nossos olhos para o futuro. No meu caso, as respostas que explicavam o funcionamento do lendário mimeógrafo vieram rapidamente e tudo graças a uma professora dinâmica e proativa.
E você? Tem alguma recordação da época de escola? Conte para nós! Nos vemos na próxima edição.
- Diego Nascimento é jornalista corporativo, consultor e palestrante. Atualmente integra a equipe do Grupo PEMI Empresarial. www.diegonascimento.com.br
Revista Veredas Educacionais – abril / 2020