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Em bate-papo exclusivo com a Revista Veredas, a ministra Damares Alves falou a respeito do seu ministério pastoral, da participação evangélica na política, da importância da educação cristã, entre outros assuntos.

Educadora, advogada, assessora parlamentar, defensora dos Direitos Humanos, além de voluntária em diversos projetos, a Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves defende uma série de pautas e está à frente de muitos projetos ocupando a referida pasta no governo Bolsonaro.
A ministra tem uma popularidade significativa em relação à população brasileira, tendo, segundo dados do Datafolha (dezembro/19), a porcentagem de 43% das avaliações como ótimo/bom para a gestão; ficando atrás apenas do Ministro de Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro, que teve a gestão avaliada em 53% dos entrevistados como ótima/boa.
Formada em Direito e em Pedagogia, Damares atua há mais de 20 anos no Congresso. Suas principais bandeiras levantadas são relacionadas ao infanticídio indígena, ao combate à pedofilia, ao aborto, à violência contra as mulheres e a favor dos Direitos Humanos.
Confira a entrevista que ela concedeu, exclusivamente, para a Revista Veredas.

 Veredas: A senhora nasceu num lar cristão, filha de pastor e pastora. No meio cristão, em que a maioria dos ministros do evangelho é de homens, como se deu a sua entrada no ministério pasto ral? Você chegou a pastorear alguma igreja especificamente?
Damares Alves: Eu pertenci à Igreja do Evangelho Quadrangular. Essa igreja foi fundada, em 1920, por uma mulher em Los Angeles (Estados Unidos), então essa é uma das primeiras igrejas no mundo que ordenava mulheres pastoras, tendo inclusive sido fundada por uma pastora.
Quando chegou no Brasil, ela já chegou ordenando mulheres. Então eu já estava no contexto em que era natural as mulheres serem ordenadas pastoras daquela igreja.
Hoje, inclusive, eu creio que 52% do quadro de pastores da Igreja Quadrangular no Brasil é de mulheres, então foi muito natural.
Eu nunca dirigi uma única igreja; eu sempre fui pastora auxiliar de meu pai. O meu pai era o titular e o auxiliava em treinamento de liderança com grupos de crianças e de jovens.
Quando eu vim para Brasília, no final de 1998, eu passei a trabalhar como pastora itinerante. Eu ia às igrejas dar treinamentos a professores de escola dominical, grupo de crianças e grupos de Jovens. Então, eu fazia um trabalho de ensinamento dentro da igreja, mas eu nunca fui pastora titular de uma.

 Veredas: A senhora nunca foi candidata a cargo político, mas tem uma boa experiência assessorando políticos evangélicos. Como começou nesse meio e como você vê a participação do presidente na política?
 Damares Alves: Eu vejo de uma forma saudável e natural. Os evangélicos têm pautas, pautas positivas e essas pautas estão aí. Inclusive, foram essas pautas que elegeram o Bolsonaro, que é a defesa da vida, a proteção da criança, a defesa do idoso, a liberdade religiosa, entre outras. Então, os evangélicos têm pautas legítimas, e é quando se elegem que eles podem fazer uma ampla defesa das pautas que eles tanto falam na Igreja. Ou seja: podem trazer também essas pautas para o âmbito político.

 Veredas: Em questões educacionais, a senhora tem se posicionado contra a ideologia de gênero e a favor do Escola sem Partido. No caso das escolas cristãs, elas se posicionam claramente ao oferecer uma educação baseada em princípios bíblicos. Pregar o Escola sem Partido não seria uma contradição com o que é ensinado em nossas escolas evangélicas?
 Damares Alves: Não vejo por que. O projeto Escola Sem Partido está muito claro que é para combater a doutrinação ideológica partidária. Se fosse para combater a questão da religião na escola, seria ‘Escola sem Religião’. Mas o projeto está bem claro: Escola sem Partido e ideologia partidária. É a isto que esse projeto se propõe.
Outra coisa com relação ao Escola Sem Partido: se você ler o projeto, ele regulamenta a relação professor-aluno dentro da sala. Mas a escola não é só sala, escola é um ambiente todo.

 Veredas: A senhora defende sempre a luta em relação à violência contra mulher. A igreja evangélica não deveria se posicionar mais nas questões que são claramente bíblicas, como a violência contra mulher, o aborto, a ideologia de gênero, etc?
Damares Alves: Olha, a igreja faz um trabalho espetacular. Então, nós temos de entender que a Igreja Evangélica, e muitas vezes no silêncio, no anonimato, faz um trabalho de acolhimento com as mulheres vítimas de violência.
A Igreja tem o seu papel no combate ao aborto. A Igreja se manifesta claramente com relação à ideologia de gênero. Eu defendo que a Igreja já atua. Pode atuar um pouco mais nas questões sociais e com mais espaço de acolhimento para mulher, criança, se tiver uma forma mais proativa. Mas a Igreja Evangélica já faz isso.

 Veredas: Ministra, como a senhora vê a participação das igrejas evangélicas na área de educação?
Damares Alves: As igrejas se posicionam sobre o conteúdo. As igrejas têm exigido educação de qualidade, têm orientado os pais a exigir educação de qualidade, mas as igrejas poderiam ter mais escolas. Temos excelentes escolas no Brasil de origem evangélica, que dão um show de gestão e de qualidade. No entanto, eu acho que a Igreja Evangélica poderia ter mais escolas, especialmente no ensino infantil.

 Veredas: Quais projetos do seu Ministério, hoje, poderiam ser utilizados nas escolas cristãs evangélicas do país? Como envolver as nossas escolas nesses projetos?
 Damares Alves: O nosso Ministério fala de defesa da vida como um todo. Proteção de direitos humanos.
Então, a gente podia trabalhar mais a questão da educação em Direitos Humanos. Acho que todas as escolas poderiam se envolver mais no nosso projeto de educação em Direitos Humanos.

Veredas: Poderia deixar uma mensagem pessoal para todos educadores cristãos que acreditam que temos uma missão que ultrapassa as letras, os números e as ciências, mas que se propõe a ensinar valores para a vida desse aluno?
 Damares Alves: O educar cristão pode interagir com essas pautas. E meu recado é: vamos ensinar a Bíblia, mas vamos ensinar também cidadania. Vamos ensinar respeito aos Direitos Humanos, vamos ensinar e mudar, promovendo transformação social, a transformação de Nação. É possível a gente unir essas duas pautas.

 

Revista Veredas Educacionais – abril / 2020