Aos 12 anos de idade eu integrava a lista de alunos da 7ª série (atual 8º ano) do ensino fundamental (anos finais) da centenária Escola Estadual Professor Firmino Costa, na cidade de Lavras, sul das Minas Gerais. Recordo, como se fosse ontem, o cheiro da merenda na hora do intervalo e os pedidos de “Silêncio, turma!” da Professora Heloísa que, à época, lecionava Matemática. O ano letivo estava apenas começando e em meus cadernos novos eu cuidadosamente registrava o horário de aulas que deveria ser seguido à risca e sem atrasos.
As aulas práticas aconteciam por meio de visitas técnicas ou demonstrações em sala. Tudo era incrível aos meus olhos, afinal, a internet fazia parte de uma realidade completamente distante para a maioria dos brasileiros e quaisquer recursos tecnológicos que julgamos básico na atualidade seria considerado “coisa de outro mundo” naquele 1997. Foi durante a aula de Ciências (hoje Biologia) que fiquei deslumbrado com a sala de vídeo localizada ao lado da biblioteca. Recordo de um armário imenso onde ficava um aparelho televisor, um vídeo cassete, caixas de som amplificadoras e uma coleção da TV Escola. Quando não assistíamos a programação da grade, as professoras escolhiam algum tema nas fitas cassete e compartilhavam um material rico em conteúdo.
A infância e a adolescência não me deram muitos amigos e, depois da escola, passava a tarde assistindo documentários científicos e históricos na TV Cultura e Rede Minas. Acredite: muito do aprendizado que tive por meio do aparelho de 21 polegadas da minha casa contribuiu de forma considerável para a minha formação na educação básica: reconheço que eu tinha disciplina sobre o que deveria assistir. Avalio que minha iniciação prévia com os programas educativos contribuiu de forma integral para a minha parceria de aluno-telespectador comaTVEscola.
Como surgiu o canal? A inauguração da TV Escola aconteceu em 4 de março de 1996. Informações oficiais dão conta de que logo no início das operações o canal junto ao Ministério da Educação enviou um televisor, um videocassete, uma antena parabólica, um receptor de satélite e um conjunto de dez fitas de vídeo VHS com material produzido para a educação básica em escolas que tivessem mais de 100 alunos regularmente matriculados; exatamente o que vi no princípio daquele ano de 1997.
De lá para cá o mundo mudou. A TV aberta e até mesmo os canais fechados precisaram se reinventar. Disputam espaço com o Youtube, Netflix e outros aplicativos que trazem uma mistura de experiências bem ali na palma da mão, transmitida em uma tela do smartphone. A TV Escola também seguiu o mesmo caminho. Além de conteúdo disponível 24 horas por dia, a emissora integra o time dos apps e seu acesso é também ofertado a dispositivos Android e IOS.
Por fim, penso que o grande desafio da TV Escola e de outras iniciativas de ensino dignas de premiação é aumentar a sua audiência em uma sociedade em que os valores têm se dissipado e onde podemos encontrar crianças e jovens que trocam facilmente uma boa aula de História do Brasil por um clipe musical sem valor agregado. Há quem diga que perseverança conduz para o sucesso; também acredito nisso, mas o apoio de outras pessoas é fundamental. No caso da TV educativa os bons frutos transcendem ações governamentais: depende de nós!
Escrito por:
Diego Nascimento
Jornalista corporativo, palestrante e consultor educacional.
http://www.diegonascimento.com.br/