O Ministro Milton Ribeiro, à frente da pasta da educação do Governo Bolsonaro desde julho, conversou com exclusividade com a Revista Veredas Educacionais e deixou mensagem às escolas confessionais do Brasil.
O Ministério da Educação é um dos maiores do Governo Federal, tanto em pessoal e recursos, quanto em desafios. Após 22 dias sem um titular na cadeira, Milton Ribeiro assumiu em 16 de julho o posto num momento de pandemia e incertezas.
Milton Ribeiro, de 62 anos, é doutor em Educação, Mestre em Direito e reverendo na Igreja Presbiteriana Jardim Oração, em Santos. Entre outras atividades, foi vice-reitor da Universidade Mackenzie.
Como se já não bastasse o tamanho da tarefa, dias após assumir o ministério, foi testado positivo para o Coronavírus, o que o fez despachar de casa até a sua recuperação.
O Ministro Milton Ribeiro e sua equipe enfrentam temas estruturais importantes da nossa educação, como a qualidade do ensino no Brasil, evasão escolar, melhoria da formação de professores e a manutenção do FUNDEB. Além disso, tem a missão de coordenar a volta às aulas após a pandemia e apoiar as escolas nesse novo momento.
Gentilmente, o Ministro atendeu nosso convite para uma entrevista exclusiva. Confira a seguir a palavra do educador, ministro e pastor Milton Ribeiro a todas as escolas cristãs do Brasil.
• Muitos especialistas consideram que o ensino remoto não substituiu plenamente as aulas presenciais e que a educação e a economia, em termos de produtividade no futuro, irão perder muito com a falta das aulas sendo ministradas em sala de aula. Como o senhor vê esse período de educação remota por causa da pandemia?
Essa experiência dolorida, penosa e amarga, em decorrência da pandemia, nos apresentou, também, oportunidades. A experiência do ensino remoto durante esse tempo de distanciamento e isolamento social nos mostrou um quadro que talvez não reconheceríamos de outra forma senão forçada. Vimos que é possível. Ademais, vimos que se tivermos as ferramentas, os recursos e a capacitação, o ensino a distância é não apenas uma alternativa, mas uma realidade. É certo que se perde muito no contato pessoal, na interação que envolve o processo de aprendizado; há de se considerar, ainda, disciplinas mais práticas, que não podem ser feitas à distância. Apesar disso, a educação remota é uma realidade que veio para ficar.
• Sem dúvida, a tecnologia foi uma grande aliada na continuidade das aulas. O senhor considera que, após a pandemia, a educação será diferente? Se sim, como o MEC está se preparando para isso?
Certamente será. Não apenas novas tecnologias estão sendo desenvolvidas com esse foco, como creio que haverá uma maior demanda por novas possibilidades e recursos tecnológicos segmentados para a educação.
• Nesse contexto de tecnologia, o ENEM poderá se tornar um exame virtual?
Não de forma domiciliar, mas já nesta próxima edição estamos apresentando o ENEM digital. As provas serão aplicadas para mais de 100 mil estudantes em 110 cidades, em todas as capitais e DF, em locais designados e com infraestrutura adequada. Existe até uma expectativa para que em um futuro não tão distante essa modalidade substitua totalmente as provas impressas.
• Para o senhor, como Ministro da Educação, quais são os principais desafios da educação brasileira na atualidade? Como vencer esses desafios?
O principal desafio é resgatar a qualidade do ensino público, sobretudo na educação básica, que piorou nos últimos anos, conforme os números mostram. Há 20 anos, a escola pública era melhor do que é hoje. Há 30 anos, era melhor ainda. Na minha infância, eu estudei em escolas públicas, e eram as melhores. Desejo que os professores da escola pública sejam as referências de vida para os alunos, como foram os meus. Como fazer isso, guardo para a próxima resposta.
• Quais serão as prioridades do Ministério da Educação?
Eu gostaria de mudar o eixo da atenção do MEC. Agora, eu gostaria de dar uma atenção aos professores, para resgatar o protagonismo – que tem estado no “método”, estrutura ou até no aluno – do profissional da educação.
Isso significa treinar, capacitar, dar as ferramentas. Como tenho dito: um professor bom, embaixo de uma árvore, impacta a vida de um aluno. O professor precisa ser mais valorizado. Assim, vamos olhar para isso com um pouco mais de carinho e como prioridade.
• Algo que muito se discute na educação em todo mundo é a questão da valorização do professor. Como o professor é pouco valorizado financeiramente, os jovens mais bem preparados escolhem outro tipo de carreira, o que contribui para a redução do nível geral dos professores. Como o senhor encara esta questão?
Como disse, encaro como prioridade. Isso que você falou é uma realidade. Hoje, ser professor é realmente uma paixão pela vocação, pois a situação legada por governos anteriores à categoria desestimula muitos que gostariam ou se identificam com tão maravilhosa e honrada missão.
Muitos desses acabam ficando pelo caminho ou optam por outras profissões com maiores salários. É preciso resgatar mais do prestígio e valorizar ainda mais nossos professores, uma vez que eles são essenciais, a base para a nossa sociedade.
• Existem atualmente no Brasil mais de mil escolas cristãs, que são mantidas por denominações, igrejas locais e empresários cristãos. Como o senhor vê a educação cristã escolar? Ela pode fazer diferença para a educação brasileira?
Com todo respeito e compromisso com a laicidade do Estado, creio que a educação cristã tem um enorme potencial para fazer a diferença na nossa sociedade, já que tem como referência o maior mestre, professor, ensinador e maior pedagogo da história: Jesus Cristo. Seus ensinamentos revolucionaram o mundo, dividiram a história, marcaram e transformaram vidas.
Ele era capaz de transmitir verdades tão preciosas, lições tão vitais de forma simples e ao mesmo tempo profunda, tanto para pessoas simples como para grandes intelectuais, e isso é notório desde sua infância, segundo o registro bíblico.
Quantos às escolas e universidades confessionais, é notório que elas têm sido referência na educação durante muitos anos, e é bom que emerjam cada vez mais.
• Qual a mensagem o senhor deixa para os educadores cristãos?
Sejam sal e sejam luz. O objetivo do sal é conservar e dar sabor; o da luz é iluminar, fazer a diferença, esclarecer o conhecimento acerca da realidade – e é essencial que a luz esteja em uma posição de destaque. Isso está diretamente relacionado à excelência com a qual desempenhamos nossa vocação.
Um cristão, ainda, deve ter plena consciência de sua missão de ser bênção para todo mundo e produzir bons frutos na área na qual Deus o chamou. Isso também significa saber para quem dedicar e devotar nossas vidas.
O que fazemos, seja o que for, é para a glória Dele. Se a educação prospera pelas nossas mãos, por meio do nosso trabalho, a glória é Dele.
Como já disse Abraham Kuyper, grande teólogo, pastor e estadista holandês (foi primeiro ministro da Holanda entre 1901 e 1905): “Não há um único centímetro quadrado, em todos os domínios de nossa existência, sobre os quais Cristo, que é soberano sobre tudo, não clame: ‘É meu!’. A educação está dentro de ‘pacote’. Então façamos nosso melhor para sua honra e glória.
Revista Veredas Educacionais – outubro/ 2020