Há pelo menos 30 anos uma realidade se desenha, a de que o mundo se tornará cada vez mais globalizado e, com suas fronteiras físicas, culturais e comerciais cada vez mais fluidas, o cidadão, cosmopolita, precisará de um novo passaporte para transitar, se relacionar, trocar e fazer negócio. Passaporte esse emitido apenas para os que terão o denominador comum, a chave para entender e se fazer entendido dali em diante: o inglês.
O esboço de três décadas atrás é hoje uma pintura finalizada, pendurada na parede. A realidade se confirmou de forma acachapante. E muitas das profecias — “daqui a 10 anos, todas as vagas de emprego vão exigir inglês” (PagePersonnel) — se confirmaram, e tantas outras estão pelo mesmo caminho: “qualquer pessoa que não domine uma segunda língua será o analfabeto do futuro” (Sandra Monteiro, doutora em Linguística e especialista em Ensino Bilíngue).
E já que estamos arriscando profecias, coloco nesse balaio uma de minha autoria: não tardará muito para que toda escola — para ser reconhecida como uma escola em si — precisará ser bilíngue.
O que mudou de 30 anos pra cá? O inglês, antes uma escolha, uma matéria eletiva, é hoje um pré-requisito para cidadãos e profissionais, e uma necessidade para a educação como negócio.
BNCC e o Fim dos Cursos de Idioma
A Base Nacional Comum Curricular, escalada para entrar em vigor em 2019, estabelece o inglês como obrigatório na rede pública. Nada de concreto ainda, a conferir. No entanto, vale observar que quando o setor público acena para uma mudança de paradigma, é sinal de que o movimento está em curso há bastante tempo na rede privada.
E de fato está. Pais mais cedo e por mais tempo fora de casa fazem crescer a importância das escolas na educação das crianças. Os horários integrais pululam país afora. Violência, péssima mobilidade urbana, horas no trânsito impulsionam o modelo de escola one-stop shop, tudo num só lugar: além do horário regular, almoço, banho, lanche, aulas de ballet, futebol, reforço, robótica e… inglês!
É neste cenário que os cursos de idioma se esvaziam e as escolas crescem com a responsabilidade de prover o ensino do inglês. Mas aí que está: esqueçamos o modelo de duas aulas por semana, fortemente agarrado à gramática, à la cursos de idioma. As demandas e os pais do mundo moderno já não toleram o inglês “só pra constar”. É preciso incutir a segunda língua na formação da criança, na sua vivência diária. Eis que surgem as “escolas bilíngues”.
Verdadeiramente Bilíngue
A legislação sobre o que vem a ser uma escola bilíngue ainda é turva. Os pais contam apenas com seu bom senso na hora de matricular seus filhos. No entanto, o mercado tem amadurecido e estabelecido, por conta própria, as premissas que constroem uma escola verdadeiramente bilíngue.
Há dez anos à frente da direção pedagógica do TWICE, sistema de ensino bilíngue que fundei, acredito que uma escola bilíngue se constrói a partir do seguinte:
Aulas de inglês diárias com duração de pelo menos 1 hora;
Integração com o Currículo Nacional. Tudo o que é aprendido em português deve ser ensinado também em inglês. O aluno é imerso no idioma e aprende com base na vivência, em aulas de Science, Math, History, Geography and Language;
Professores, sejam pedagogos ou formados em Letras, com atestada fluência no idioma;
Celebração da identidade e cultura nacionais. Uma escola bilíngue é uma escola brasileira. Não confundir com escola internacional.
É Bom Crescer Bilíngue
A democratização do ensino bilíngue sempre foi um dos motores do TWICE. Pra mim é uma questão pessoal. É por isso que mantemos modelos operacionais flexíveis, que cabem em start-ups, escolas com 100, 300 e mais de 1000 alunos.
Nos grandes centros, as escolas que ainda não são bilíngues nos contratam porque precisam correr atrás do prejuízo. Afinal, como assim você ainda não é bilíngue, morando em capitais como Rio, São Paulo e Curitiba? Inglês diário é ponto de paridade. Tem que ter.
Nas regiões metropolitanas e interior, o bilinguismo ainda desponta como forte diferencial competitivo, uma novidade convertida em muitas matrículas. É tiro e queda. Funciona!
No mais, temos visto o TWICE ser aplicado para:
- evitar evasão escolar;
- fidelizar pais;
- motivar o corpo docente;
- e modernizar marcas, caso comum entre escolas tradicionais, de grande porte e com alguma dificuldade em abraçar projetos mais modernos.
But really o bilinguismo só é bom para o negócio porque é bom, primeiro, para o aluno.
Desde a década de 1960, estudos científicos comprovam que os bilíngues desenvolvem mais e melhor as funções executivas do cérebro, responsáveis por memória, atenção, foco, planejamento, resolução de problemas e multitasking, para citar apenas algumas. O contato intenso com outra língua e cultura aprimora a empatia, a tolerância e afia a visão de mundo. E para os que pensam bem mais adiante: falar mais de uma língua retarda o aparecimento de doenças como demência e Alzheimer.
E você, por que ainda não é bilíngue?
Get on board!
Sobre a autora
Ana Gurgel tem mais de 30 anos como professora e coordenadora dos principais cursos de idioma e escolas bilíngues do país. Há dez anos, fundou o sistema de ensino bilíngue TWICE, que atua em escolas de todo o Brasil. Ana é reconhecida pela Universidade de Cambridge com o DELTA — Diploma in English Language Teaching to Adults — e se formou Mestre em Interdisciplinary Studies pela Universidade de Minnesota.